segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Sampa


Parto do cinza da cidade
Vou-me embora debaixo de muita chuva
A artéria das marginais pulsa
Regurgitando faróis na capital paulista

Células de um corpo urbano
Em cada célula-carro
Organelas humanas indo e vindo eternamente
Organelas urbanas
Humanos da cidade

A chuva é fina e constante
O colorido da paisagem fica por conta das mudanças de pista
O amarelo pisca-pisca destoa do retrato cinza
Cinza, descolorido só
Não feio.
Bela, urbana e concretamente armada beleza
Lindeza urbana de um domingo sem sol
De rodoviária cheia
Coração pulsante de células maiores

Ônibus misturam-se aos carros
Igualmente lotados de humanos
Todos autômatos desse organismo citadino
Perdem a beleza do asfalto úmido
Do concreto cinza que agora brilha molhado
A preocupação é chegar
Em algum lugar
Qualquer lugar
Esqueceram-se do motivo
O importante é chegar
O porquê fica pra depois
Pra quando acabar a chuva
A beleza de um dia de sol é mais fácil de agüentar
O dia seco e de sol não é da cidade
É dos humanos

E ficam as ruas
Concreto morto unindo as pedras da calçada e das moradas
Ambos anseiam
Pelo próximo dia cinza
E chuvoso
Seu dia.

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