segunda-feira, 30 de junho de 2008

Abana as Vestes

Sacode tuas vestes
Quem sabe encontra algo que preste

Não a tua carne
Repousa debaixo destes panos
Nua carne
Sossego deste insano

Vamos, sacode essa saia
Que de ti esvaia
Meus licores
Fruto deste dia em ardores.

domingo, 29 de junho de 2008

Vai chegar o momento


Um dia falo tudo que sinto no falo
Escrevo tudo em descenso
Um dia falo,

Noutro penso,
Hoje calo

Um dia passo em tudo que quero
Calo a quem for
Longe ou perto
Com ou sem cor
Arrasto e quebro, tudo acabo

À cabo tudo levo
Menos o maior desejo
Perco o ensejo
E lá vai você
Outra vez, fiquei sem beijo.

sábado, 28 de junho de 2008

Repetição?


Distração que possibilita o encontro.
Encontro o que possibilita distração.
Que o encontro possibilita distração.
Distração, possibilita que o encontro.
Possibilita distração, que o encontro.

Amor, um dia te pego.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Inda a Não Saber


Inda não sei a que vim a este mundo
Não sei
Quem sabe um dia estátua serei
Aqui, vivo sem descobertas
Sempre com as chagas abertas
O corrimão de descida do choro
São essas linhas lidas
Inda não consegui encontrar o motivo
Mas aqui estou, por vezes altivo
Em outros torpes rostos
A desolação do gesto
É fato
É ato
A singela e única acompanhante
Não possui semblante
Por vezes fugidia
Esconde-se e ria
Ah, vazia constelação que sobrou
Do brilho de inda não saber porque aqui estou.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Mito


As bocas se fazem ocas
A mente confusa
Aproximar olhos e bocas
Narizes e rostos em forma difusa

Confundiram-se em mente
Aqui ajoelhei
Ao chão passei rente

Perpasso os lábios
Refaço trajetos em perna
Pobres sábios
Buscando sempre a Hidra de Lerna

Não há jeito
É confusão
É muito rosto e peito
Pra pouca lembrança na mão.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Aberto ao Desalinho

E a vida vai se adequando
Caminhei um tanto pra seguir andando

Coloquei ponto a castrar
Quando linhas de verso estiquei
Não devia recomeçar
Mesmo assim tentei

Abri as ruas em intento
Mudei muito em pouco tempo

Apareceu ontem e nada restava
Surgiu quando não esperava

Me bagunça a casa
Desordena os móveis e arrasa

Puxei cadeira pra que sentasse
Se atirou no sofá como se não restasse
Arrumei mesa pro jantar
Se banqueteou em meu chão sem pesar

Não adianta
Por mais que tente nos organizar
O caos é nosso azar

Não penso mais em busca
Desisto de ordenar


Agora só
Permaneço em porta
Abro o coração
E sigo a esperar

terça-feira, 24 de junho de 2008

Vai Ruir


Perco as horas buscando encontrar
Justas frases
Às letras busco alinhar
Como jogo em par de ases

Urge a conta
Balanço exato
Há sempre ponta
Sobrando em verso petardo

Como combinar
Física distância
Em poesia colocar
Sem causar ânsia

Sofro em não possuir
Vocabulário algum
Choro em ver ruir
Um amor sem verso algum.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Indelével


Desalinho
Desterro a certeza
Em vinho
Derramei-te à mesa

Mancha indelével
Perdeu alva esperança
Soltou ao léu
Despirocada dança

Tudo inundou
Perdemos a distinção
Pratos, talheres e toalha manchou
Restou apenas um senão

Vinho e alvo
Alvo de tiro
Tiro ao alvo
Tu em vinho me viro.

sábado, 21 de junho de 2008

Antes De


Desconstruo nossa imagem
Longa trajetória perene

Prenhe de querer
Outro ao lado de um morrer

Desisto das rimas
As desconstruí também

Perdi-me no afazer
Tentei em vão entender

Quê era aquilo devorar
Voraz me pus em meu lugar

Sento e aguardo
Resguardo

Suo momentos que virão
Sudorese de antemão

Veio antes do gozo.
Precoce e desastroso!

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Visita


Puxei o lençol
Cobri a cara

Um pouco mais...
Despertador à parede!

Mais um instante...
Viro de lado

Justo agora,
Tinhas que aparecer no sonho?

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Acontece...


Acordei sem rima
Nem mesmo uma que seja cretina
E não me anima
Não te quero em cima

Só me saem
Estes terços mal feitos
De mim esvaem
Feito regurgitos estreitos

Não adianta!
Mesmo tua saia que levanta
Nada me livra dessa sina
De hoje, justo hoje, acordar sem rima.

Desculpe a brochada
Isso nunca aconteceu,
Juro amada!

terça-feira, 17 de junho de 2008

Minha Noite


Minha noite ideal
Pra ti soa sem sal
Em mim é verdadeiro carnaval

Um livro, cigarros e idéias ligeiras
Deslizam em linhas rasteiras

Assim é minha madrugada
Não necessito de cruz ou espada

Assim só, atravesso mais uma noite
Em versos, embriaguez e teu açoite

Se não tenho tempero
É porque em ti
Me acabei inteiro

Madrugada ideal
Enlouqueci, qual o mal?

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Nem tanta inocência


Por ora
Sem demora
Solto meu depoimento
Complemento ao dia cinzento

Triste hoje sou não
Sorriso cravou
Contraria minha sanção
Chorar cá não vou

Vim declarar
Que a pena a mim imposta
Sentir a face corar
Quando em mim beijo encosta

Inocência ainda tem lugar
Estranho sentido
Pós-moderno amar
Desconstruí o que em mim havia sido
Na modernidade chorar

Agora é isso
Meu e teu compromisso
Infantil resquício
Mãos dadas sem vício

Dá-me um selinho
Um desses em folhetim repleto
E um pouco de vinho
Inocência total soa meio incorreto.

domingo, 15 de junho de 2008

Contrato



Rachei os lábios ao escancarar
Estiquei pra beijar
Ressequidos desacostumaram a outros tocar

Hidrata na saliva do riso
Esse beijo ressequido agora liso

Fonte de tantos sorrisos
Agora só incisos
Do contrato escrito na cortina de sal imprecisos

Choro perdido, cortinas nesse palco de rosto
Sorrisos figurantes passam em deposto
Cena de tristeza
Contraria em amor a pureza

Script seguido à risca
Atenta ao espetáculo nem pisca

Rosto palco dessa inglória
Palco da memória
Triste essa nossa história.

sábado, 14 de junho de 2008

Prescrição Poética para o Mal da Ausência


Pingue em ti a conta-gotas estas palavras:
Ar
Frio
Respire
Fundo
Sinta
Nele
Poder
Gélido
Indiferente
Ausência
Tua

Em mim, vasilha de palavras
Encontra-as todas em gotas
A formarem a substância dessa separação.

Homogêneas, difusas, gotas dizem:
“sente um ar frio te invadir as entranhas e verás
o que significa acordar
sem tua nuca desnuda a me velar.”

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Muitas

Ser mulher
Pronta a quem vier

Interrogação composta
Em meio a obviedade da resposta

Choro e riso ser
Síntese de não se entender

Dualidade
Multiplicidade
Não há idade
Muitas verdades

Segurança um resumo
Da certeza de em amor
Aos homens dar prumo.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Centrei

Por que esta raiva em ti cidade?
Nada houve, tudo está em seu lugar, não há novidade.

Raiva surgiu.
Não entendes por onde ela te seguiu
Mas sabes onde ela atingiu.

Em cheio agora te corrói o peito,
Forma angústia em frases de efeito.

Tudo está exatamente do mesmo jeito que outrora
Feriram teu orgulho por agora?
Mimado menino, não chora.

A atenção que pensavas ter
É agora compartilhada em outro ser?

Como podes ver nisto novidade?
Esta é a vida meu caro
Bem se vê que tens pouca idade

Agora como Copérnico
A grande descoberta,
Em boca aberta
não és o centro do mundo!
Pobrezinho de inocência imundo

Sorte tua,
Há muito já foi
A inquisição solta à rua

Poucos séculos atrás
Irias à fogueira meu rapaz!

quarta-feira, 11 de junho de 2008

É pouco


Pobreza humana retardada
Isso é pensar um pouco
Deixar a mente alada
E cortar a obviedade em toco

Quero a novidade
Quero ser humano
Quero contrariar a idade
Chega de levar cano

Óbvio que não ganho
Recebo o toco da solidão
Num instante da existência arranho
Pouca prosa e muito sertão.
É a seca meu irmão!

terça-feira, 10 de junho de 2008

Linguagem


Poliglota afônico
Sei a comunicação
Não sôo desarmônico
Só me perco em tua mutação

Quando achei
Nas mil línguas
Que a tudo provei
Perdido em mínguas

Contraria minha sapiência
Sem a mínima decência
Mostra a cada beijo em via
Palavras que desconhecia

Outra linguagem
Diferente de tudo
Contraria o mundo que tinha em imagem
Me faz mudo.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Não Pode


Pudor de idéias
Separado em tuas colméias
Secreta nestes pudores
Desejos de ardores

Mão aqui não pode
Levanta
Se sacode
O desejo é teu, de nada adianta

Jogo teu jogo
Entre teus desassossegos
Te toco
Faço chamegos

Deita e não dormes
Entre teus lençóis disformes
Procura minhas mãos
Entre teus espaços agora vãos.

domingo, 8 de junho de 2008

Um momento, já volto.

Se agora sou teus sonhos
É porque não soube
Perdi-me em surto enfadonho
A ti culpa não coube

Escapei da missão
Me fui pela tangente
Em nome da diversão
Fugi de nosso presente

Arrependimento não sei fazer
Escolho um ponto e luto
Mesmo que agora me fique a roer
E nessa noite te exulto

Crueldade
Longe em outra cidade
Maldade
Menos sarcasmo minha cara, por piedade.

sábado, 7 de junho de 2008

Co-Respondência


Cruz em sinal-da-cruz
Reta em régua
Quadrado em quadras
Anota em notas
Pela porta gente aporta
Na fresta pouco do que resta
Na réstia o sossego para a moléstia

e nós...
Como combinamos?

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Involuo

Como nesses dias me aproximo
Fraca linha da evolução
Na origem arrimo
Macaco irracional em ação

Não cesso a busca
De uma virgem mãe inexistente
E como isso ofusca
Qualquer novo amor latente

Volto a proteger
Um território que nunca tive
Vocifero internos fantasmas sem querer
A fêmea intocável não vive

Perda de tempo precioso
Involução total
Deixo meu amor ocioso
Babaquice de ser humano mortal

E fico eu preso
Jaula moral
De ti esqueço
Não te dou direito à história, perdeste meu aval.

Desculpe minha descendência
Fraco sou às tuas anteriores indecências.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Minhas Paredes, obra sem fim.

Não vejo razão dessa angústia
Arrepio que me agita as costelas
Minha construção
Não chegou ao reboco
Planta baixa de mim
Vejo que sou cômodos
Traçados, planejados, bem dispostos
Não executados
Não erguidos
É meu sono
Engano repouso

A razão de acordar
Casou-se com o mestre-de-minhas-obras
Em planta baixa me quedei

Em desenho um acômodo perfeito
De minhas paredes fiquei preso estreito.
Quem vos concedeu o direito?
Reformar sem acabar?
Não há jeito.
Antes deves me acordar
A obra terminar
Depois, podes me habitar.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Casório ou Velório?

Desordem cotidiana
Mão invisível
Segura e engana
Mostra o indizível

Acordar, viver, dormir
Viver acordado
Tornar a dormir
Dormir para viver de lado

Dia a dia, todos os dias
Regras comuns
Misturamos as guias
Invertemos sem mal nenhum

Agora é cotidiano
Sem surpresa
Circadianamente todo ano
Juntos, da cama à mesa.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Superficial

A muitas dou as mãos
Multiplico meu olhares
Todos vãos
Sempre sem pesares

Não sou egoísta
A todas reservo um quisto
Niilista?
Não, apenas bem visto

Caríssimas
A todas arranjo
Muitíssimas
Carícias de arcanjo

Suave a várias
Verdeiro a poucas
Torturo sem precárias
As faço loucas

Mas sofro contudo
Como poucos
Só, quieto e mudo
Soluço solto, xingamento rouco
Grito contido, contíguo, contigo
Grito comigo.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Par


Alguém em quem confiar
Boa questão
Em outro deixar-se levar
Sem mínimo não

Difícil tormenta
Pular cortês
A onda rebenta
Certeza em menos de mês

Como não ter paúra
Do par azul em teia
Que vira miúra
Sempre sem lua cheia?

A paz é pele solta
Alva em mim envolta
E negros fio a fio
Escorrem cabelos a leito de rio
Juntos, alvo negro e anil
Forçam em mim outro brio

Deito nesse leito
Feliz, durmo entre meu e teu peito.

domingo, 1 de junho de 2008

Astúcia

Envelhecer
Um a um desfiar os anos
Próximos de morrer
Ao ponto final resolutos vamos

Não há escolha
Não há o que faças
É vazão sem rolha
É a busca às traças

Esse é socializado
Tempo é pra todos
Mesmo pros que de lado
No espelho lotam a cara de lodos

Fuga estúpida, puro desmando
Sono de quem não acorda
Estás desfiando...
É a última linha de tua corda

Que fazes com tuas horas?
A finitude desse minuto
É pouco pro tanto que choras
Sorria, sê astuto.