sábado, 27 de setembro de 2008

Acaso


Atirei as frases
Joguei-as com força aos ouvidos teus
Centrei a mira
Juro pelos meus.

Culpa tenho eu
Se outros ouvidos as juntaram
Que não os teus?

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Como você querida


Você quer me esquecer e eu a você
Você um dia em mim despertou algo e eu a você
Você já muitas vezes disse eu te amo e eu a você
Você tantas vezes sorriu lembrando de mim e eu de você
Você escolheu a mim e eu a você

Você traiu a mim e eu a você
Você hoje se despediu e eu quero você
Poesia e versos baratos
Você merece muito menos.

Como você.


segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Ela em Mim


Buscando me encontrar
A vi em meu lugar
A senti ali como se fosse eu mesmo
A sofrer o meu mirar

Um amor narciso
Nela vi a mim
Em mim vi a ela
Amor surgiu como guia em guiso

Tilintando sempre o mesmo som
Fez de duas almas
De dois corpos
Uma só nota, um só tom.

sábado, 20 de setembro de 2008

Irrompe


Interrupção
Sem oferecer opção
A existência não será a mesma
Nunca mais

Interrupção
Esse teu cheiro
Me invadiu as entranhas
Agora nego as relações estranhas

Interrupção
Sem pedir licença
Minha vida em tuas mãos
Que as horas distantes
Sejam nossas únicas desavenças.

Amor, a minha inconseqüência
É causa dessa tua ausência.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Rima sempre meu amor


Sou um apaixonado
Essa é minha questão
Sou um apaixonado

Fico sem pressa pensando
Em toda a tua passante aurora
Amanhecer entre cabelos e mãos

Em todo o silêncio dos beijos
Na mudez das bocas unidas
Nas mãos em união infindas

Confundo meu sorriso misturado ao teu
Caminhamos juntos
Desfizemos a solidão antes breu

Agora estamos juntos meu amor
Eu, você e nossa união de tudo
Não importa toda nossa saudade

Ela sempre rima
Com nosso encontro em felicidade!

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Escalei a escala


A vida nem sempre é justa
Ela sempre custa
Muito choro e saia justa

Mas o que fazer
Se nessa existência querer
Apenas te ter

É desejo simples minha cara
Uma pequena tara

Surtiu efeito
Apesar do mau jeito

Apaixonei e conheci
O abismo da nota si

Para onde sempre voltas
Pra si

Senta na escala da cama e ri
Passamos as notas todas
Dó,ré,mi,fá,sol,lá.. si.

domingo, 14 de setembro de 2008

Figurar é ser feliz


Figurei minha linguagem
Transformei beijo à amiga
Em traição colorida

Peguei teu tapa na face
E fiz um carinho com outro enlace

Da noite de nudez
Descobri nova boca
Úmida mudez

Figurei nosso amor
Transformei
Agora é pequeno horror

Até a solidão
Transformei em por mim
Imensurável paixão

Doce, doce figuração.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Para Recitar


A pureza do olhar insiste em me seguir. Não há escapatória, arfante viro-me buscando auxílio em mãos e ombros que negam morada. Desterrado sigo assim, sem território de mim, sem chaga que minha seja, sem prata que riso festeja. Sigo, andando e chorando, sentindo o calor do choro resfriar, como um coro a comemorar. Fim de tudo, fim do fim, fim de mim.
Chutei a ordem ao alto, dane-se tudo, vá tudo ao asfalto. Não sigo mais ordens, em nada me auxiliaram. Agora é o caos, quero tudo ao mesmo tempo, quero ser feliz e atirar choro ao vento. Nada em compreensão, arrasto meus pés, lambo as tuas mãos. Aguardo, corro, escorro, volto e vou adiante. Não queira compreender.

O início da compreensão é o fim de mim, é o término, ordene meu caos e acabe

sem mim.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Carta ao Destino


Que dúvida Destino, que dúvida!
Permanecer entre conhecidos muros
Ou passá-los a valer?
Se assim for não mais serei o de agora ser
Este que aqui debruçado agora
Sobre um punhado de tijolos chora

Muros contenção
Muros proteção
Murros sem força
Me escapam das mãos

Que dúvida Destino, que dúvida!
Que farei depois de satisfeito?
Depois de vencido o próximo parapeito?

Seguirei entre outras barreiras
Eternamente passando-as
Freneticamente às carreiras?

Por que, Destino, a cada muro que avanço
A cada abandono em passo manso
Outro mais alto se avizinha
E não resisto ao pulo caro Destino
Entre que muros esta alma se aninha?

Destino, responde presto
Lá, do outro lado
Atenção em ti não presto.

domingo, 7 de setembro de 2008

Doce Amor


Cobertura: doce sem idade
Pequeno encurvar da realidade
Para cada colher de saudade
Junte as lágrimas da nova amizade
Aquele amor antes novidade

Aqueça em banho-maria
Um minuto para cada dia
De tal mistura faça dois copos

Reserve

Pique todas as cartas
Salpique de emoções fartas

Para dar liga
Use saliva

Leve ao forno de cobertas
Mantenha as pernas entreabertas

Retire da cama
Sirva à dama

Rendimento:
meia porção
para duas pessoas

Obs. Cuidar para não desandar

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Por que não?


Um dia me entendi chorando
Cabelos brancos despontando
Denunciaram saber sofrer
Comecei a me ver morrer

Réstia de dores
À escolha de quem fores
Morte, abandono e mentiras
Escolha o que desse rol prefiras

Caso queiras uniremos as réstias
Minhas ardências às tuas bromélias
Perduraremos a secar
Juntas, bromélias e ardências a casar.

Sofreremos coloridos
E em poucos anos idos
Juntos secaremos
Em futuro próximo

Opacos e marrons nos tornaremos

Juntos a branquear os pêlos
Envelheceremos.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Nossos Minutos



Buscando auxílio no pensamento antropológico, principalmente a partir de Heidegger e de seu conceito de fusão de horizontes, é possível avaliar o que significa quando um encontro humano ocorre, sob várias óticas e prismas de análise. Utilizo aqui a expressão encontro humano no sentido de o mesmo ser único, cronológico e situado no espaço, sendo assim impossível de repetição. Encontro este que pode ser de duas ou mais pessoas, não importa, o que importa é sua unicidade na história da existência de todos. Heidegger conceituou o que chamou de fusão de horizontes ao instante em que o olhar cultural de um ser, somado ao olhar de outro, produz um novo olhar, compartilhado por ambos. Fusão de existências.
Contrariando a perspectiva biologicista que considera o homem um punhado de genes e hormônios circulantes em estradas venosas e arteriais, afirmo: possuímos história, escrevemos a cada minuto nossa biografia, perpassamos a mesma pelo encontro com outros e com a fusão de todos em obrigatória convivência social. Obrigatória sim, pois mesmo aos que se isolam voluntariamente desta, apenas a ação de isolar-se já é uma relação com os outros – é preciso de isolar-se de algo, o outro sempre existe. Acreditarmos que a existência é regida por predisposições genéticas, passíveis de controle e manipulação, sugere-nos o homem maquínico, pleno de parafusos e arruelas genéticas. Coloquemos isso à prova da arte e, certamente, refutaremos tais tacanhas disposições científicas. Aqui não nega-se a importância das pesquisas genéticas e do crescente conhecimento na área, o que nega-se é o extremo, é o desconsiderar a existência do humano, de sua unicidade, de sua singular existência e incapacitá-lo em relação à protagonização da própria história. Se eu, poeta, escolho escrever determinados versos, certamente eles não estão previamente inscritos em meus genes, fazem parte sim de minha história e de minha relação com outros entes humanos. Negue-se isto e estaremos negando a própria existência.
Dentro da perspectiva freudiana, o impulso da vida é a energia libidinal. A repressão da mesma e o aprendizado provindo deste exercício nos constitui enquanto seres sociais. Como toda construção humana, a sexualidade é uma construção histórica, social, cultural, biológica e psicológica. De acordo com o ethos de cada momento histórico a sexualidade é exercida e vivenciada de determinada maneira. A constante a ser considerada neste aspecto é a de que o impulso libidinal perpassa toda a existência humana, variando sim seus mecanismos repressores e sua simbolização antropológica. Portanto, a maneira que vivenciamos nossa sexualidade, a forma como a inscrevemos em nossa biografia, é prenhe de outras tantas existências humanas das sociedades que nos precederam e das quais nos inserimos enquanto homens. Acredito que aqui é necessário uma inflexão sobre a própria noção de protagonistas de nossa biografia: se estamos inseridos em determinado tempo, em determinado espaço e convivemos em determinada sociedade, até que ponto realmente protagonizamos nosso cotidiano? Até que ponto realmente escolhemos determinado parceiro para as trocas afetivas? Conseguimos verdadeiramente encontrarmo-nos com o outro, que também encontra-se inserido e submerso neste mesmo espaço, tempo e sociedade? Não há uma simbolização pré-determinada de bem estar, de beleza, uma estereotipização prévia da relação ideal, com a qual alcançaremos a felicidade plena? Permanecem os questionamentos e seguimos com nosso texto protagonista.
Contrariamente ao propagandeado pelo pós-modernismo barato, este que se mostra impensado e que nos cerca dentro do senso comum, não refletindo verdadeiramente sobre si, apenas desvelando novas verdades, penso que nunca possuímos tanto tempo para olharmos para a própria existência quanto hoje. O discurso de que o mundo contemporâneo não permite a inflexão sobre si é, no mínimo, uma negação do próprio momento histórico que vivenciamos enquanto sociedade. Analisemos a jornada de trabalho pós-moderna, drasticamente reduzida em número de horas se comparada às jornadas dos trabalhadores rurais ou industriais do começo do século XX. Agora trabalhamos em casa, enquanto dirigimos através dos telefones móveis, não há mais jornada pré-estabelecida. Os cartões ponto caem em desuso nas profissões pós-modernas. Pensa-se menos em quantidade de horas dispostas ao trabalho e mais em qualidade de realização do mesmo. Apesar da aparente roda viva do dia-a-dia pós-moderno, a angústia em relação à própria existência aparentemente cresce, haja visto o pleno desenvolvimento da farmacologia psíquica e a proliferação dos consultórios psicanalíticos. O que há com a pós-modernidade que nos causa tanto sofrimento? Seria o encontro consigo ao qual estamos submetidos pelo isolamento da imagem de seres sociais ideais, com determinado corpo, roupa, estilo de cabelo ou mesmo de vida? O próprio exercício do erotismo, a que “previedades” o mesmo está submetido pelos padrões pós-modernos de existência? Não proponho aqui um romântico e idealizado retorno ao passado, solução fácil e inócua para encerrar esta breve reflexão. A proposta aqui é a própria volatilidade das questões neste ensaio inseridas, a necessidade de colocá-las enquanto crítica e revisão da praxis diária. Proponho aqui a revisão da necessidade humana do encontro com o outro, com a existência de outros entes humanos, com o sexo alheio e suas contradições (aos nossos estreitos olhos), com a capacidade da abertura aos outros que nos cercam. E este não é um discurso puritanista, moralmente estéril de igualdade entre os seres. Este é o exercício da sexualidade propriamente dita, de nossa energia libidinal, de nosso pulso de vida. Do comum à todos, pós-modernamente reprimido nos comportamentos contemporâneos do ficar à esmo, das relações fugazes, da máscara de felicidade que precisamos assumir perante outros igualmente angustiados e solitários, mas que precisam guardar isso para si, assim como nós mesmos. Afinal, quem sofre hoje em dia, não é mesmo? Os doentes talvez. Pobre perspectiva biomédica de considerar apenas o patológico, o canceroso, o desfuncionante. Ora, ser homem é questionar a própria existência sim, e a manifestação da angústia é parte deste questionamento, mesmo que pós-modernamente neguemos que isso ocorra.
Para os biologicistas, a solução não é Heideggeriana, a fusão de horizontes (aqui adaptada para este ensaio) está já condensada farmacologicamente. Não há porque perdermos tempo com isto. Encontrar o outro só se for para uma ficada. E que seja rápida e não me ligue no outro dia, ok? Já tomou seu Prozac© hoje? Não, mas já liguei para o meu analista.