quarta-feira, 30 de abril de 2008

Incômodo



Moldei a pedra do teu sapato
A cada passo me sentes no ato
Não espeta ou machuca
Fica ali e só cutuca


Passando por onde não queiras
Podes balançar a sola ou tentar manobras ligeiras
Moldei-a bem
A sabia pra quem


Maneira de te lembrar
Que a cada passo de afastar
Enquanto não parar
Mais presente fico no teu calcanhar.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Urbanidade



A urbanidade é cortar
De carro as ruas singrar
Mais aos outros mostrar ter
Urbano pensa que isto é poder


A mim cabe rir
Ao ver todos nessa viagem partir
Como mulas toscas
Acumulando bens como esterco às moscas

Vendados urbanos estão
E esse poema contra-mão
Nada serve além de suspiro
Nesse palavreado ao avesso te viro

Urbano
Isso não é cano
Desculpe a risada
Sei que não vês nada
Envolto estás neste capitalismo cilada.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Campo de Guerra


A união do zelo ao descaso

Nosso dia-a-dia

O adverso certo do abraço

O beijo transverso no céu-da-boca

O lençol marcado

Entreposto no campo de batalha

Travada a guerra

Depostos os corações

Não há vencedores

Não há perdedores

Há solidão na trincheira, ausência de embate.

sábado, 26 de abril de 2008

Sábio


As quais não olham
As químicas não tocam
É, meu caro, não te miram?
Por que se viram?

Achava-te muy guapo
Confundiram-te com um guardanapo

Não há problema
Aproveita o emblema
Quando quiser ela limpar o lábio
Use a língua, caro sábio.

Recorrência

Sai do banho e vem calar
Essa seda de ausência
Fiquei no ar
Paciência

Hoje não é dia de inspiração
Angústia não é hora
Hoje é comemoração
Vem logo, não demora

Não interessa se senti teu peso
A noite inteira
Não saí ileso
Por mais que queira

Vai não, hoje é domingo
Essa chuva fazendo estrago
Vais indo?
Gesto amargo

Pensei em hoje ser feliz
Contrariar nossa história
Esse romance de meretriz
Sempre, sem memória.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Certeza Una


Por que desesperar
A outro ano ver chegar?
Não assuste, pelo contrário
Feliz te ponha nesse anuário

Te acumulam as experiências
A cada dia mais vivências
Aproveita a hora
Como última a ir embora

Em cada entardecer
Mais próximo estás de morrer
Mas acalma tua alma
Tua vida se encontra em tua palma

Sorri e amai
A cada qual que te vai
Em amor a essa vida dê significância
Que a cada pôr-de-sol, da morte toma pouca distância

Vede nas rugas das tuas mãos
A constatação
Tens a resposta do mistério
Como dizia, na placa do cemitério
“Nós que aqui deitados estamos,
Em paciência, por vós esperamos.”

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Poeira


Nessa troca de mundos
Misturo meu desencanto
Entro pelos fundos
Você com seu canto

Cada um pode o que faz
E, em caso de sucesso
De um ser ao outro apraz
Por nós só peço

Que nossas vestes caiam
A cada momento só
E que de mim saiam
Tudo que as outras já reduziram a pó.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

A Lua, as Ruas e Seus Insones

Tamborilando a esquina
Brinca a luz da lua
Fugidia menina
Solta aproveita a rua

Rua convida a lua
Vamos celebrar sua luz
Mesmo que rua fique nua
E mostre esquina em cruz

Vergonhas?
Menina...
Essa hora da noite?
Esquina...
Desnuda te ponhas
Tua nudez que açoite
Esses castos e suas fronhas

Tais insones sem pecados notam
Erótico jogo entre lua e rua
De sofreres se lotam
Quanto queriam nessa hora ser rua

Com a lua brincar
Esquecer puros da moral
Aos abraços essa luz juntar
Num prazer carnal.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Troquei


Nuca que pego
Nunca que chego
Me molha o ego
Não sem arrego

Conto em mim
Ponto em ti
Estou no fim
Mesmo aqui

Rua que atravesso
Nua que estavas
Na rua a outra peço
E nua me esperavas

Troco os nomes
Troço de nós
Quando somes
De outra me canta a voz.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Ao Vento


O cinzeiro espreita


E quem se faz cinzas sou eu


Já queimei inteiro


Cigarro sem filtro


Me tragaste todo


Não estou no cinzeiro


O vento já dispersou


Agora não encontras


Por que não usaste a droga do cinzeiro?!?

domingo, 20 de abril de 2008

Melodia em Comum


Não percebes?

Já notei.

Não vês que é a voz do teu olhar

As notas do teu abraço

O som das tuas mãos

Essa é nossa música.

Vamos dançar?

Joguinho Matemático


Por que subtrair teu peito do meu rosto

Multiplique teus beijos

Some as tuas mãos às minhas

E vamos dividir a cama.

Só Vejo Depois de Ir


O dia em que o filme passar
Que minha retina repasse
Esses dias de calar
Saberei que não há desenlace

A história toda de novo
Eu doente ou assustado
Talvez me comovo
Desse mendigo estado

O dia em que morri.
Revivido eu em milissegundos
E vi
Teus suspiros, já sabia, não eram tão profundos.

Não Estamos


Findada a jornada
Elejo e cortejo alguém
Que aceita entrecortada
E sempre diz amém

Estamos todos os dias
Práticos na lisura fingida
Eu chorando enquanto lias
Minha fisionomia de dor munida

Há quê juntamos as mãos
Se esses respiros
Tão certos e compassados que são
Não passam de em nós retiros

Tiro de ti o que não tens
Em mim possuis o que não dou
Fico eu pensando que vens
E tu, fingindo que estou.