segunda-feira, 28 de julho de 2008

Vocação sem Talento


Não sou homem de talentos
Busco calma em meus intentos

Passo pouco a cada profissão
Sem soldo dedico-me aos trabalhos à mão

Como florista
Faria arranjo sem fita
Um buquê,
Arrimo em tecido de chita
Buquê de flor-da-pele
Tua matéria prima
Arranjo meu e teu
Nossa pele

Como camareira desleixada
Desdobraria mal os lençóis
Conservaria a marca do teu corpo
Não trocaria as fronhas
Há cheiro de nuca desejada
Ali presente em noite passada

Motorista desleal
Escolheria sempre o maior caminho
Você não perceberia
Faria mais tempo
Por mais um abraço lento
Um último carinho no fim da via

Vendedor astuto
Por pouco liquidaria
Meu coração venderia
Pelo último beijo do dia

Não sou homem de talentos
Busco calma em meus intentos

Caso não existisses
Mesmo sem talento
Seria eu inventor
E você, meu melhor invento.

Para Baixo


Hoje encontrei tuas fotos
Mandei-as ao inferno
Pensei em teu sorriso e em mãos que estapearam meu rosto
Ao diabo elas também

Voltei aos meus afazeres
Estou tecendo as linhas nossas
Em cobertor de memórias
Quero proteção da intempérie
Inverno solidão

Mas este não sentes
O inferno é bem quente

terça-feira, 22 de julho de 2008

Azul


Aportar a este cais é ordem nova
É buscar outros ares em continente que desconheço
Explorar novo território sem pensar se mereço

Desenhar sua cartografia
Ver praias, ilhas, prados e terras filhas

A cada caminho de carícia outro torrão de mulher o horizonte oferece
A cada palmo de pele, tenras terras o sol poente aquece

Aos pés descalços desses lábios curiosos
Pôr-de-sol despede em laranja luz
Descalça boca, minha boca

Terra nova, terra nua
Alma crua

Ao abraço de ventos desgoverno calores de incipiente aridez
Futuro implacável, em deserto não se perde a vez

Em tempestades de suor se esvai a ordem do dia
Explorar persistente sem cessar

Resta a inefável sensação de um continente sem nome, sem dono
Terra nova, terra nua
Pêlos e pele tua.

sábado, 19 de julho de 2008

Simplório


Não é à toa
É coisa boa
Felicidade rima em simplicidade
Mentira puxa a ira
Traição destrói o coração


Deixo um beijo


Abraço evolui em amasso
Trocar de olhar
Somar sorrisos e beijos em passos juntos dar
Amor clichê de desejos


Deixo um beijo


Somei nossos dias e noites assim
Aos abraços e carinhos
Obtive a simplicidade como total e fim


Deixo um beijo


Nosso beijo.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Empregados


Operário adentra as paredes que ergueu
Concreto, tijolo a tijolo as reconhece a cada palmo de reboco
Paredes sólidas, casa abrigo
Sua morada castigo

Adentro a leitura das linhas erguidas em versos
Letras, palavra a palavra reconheço a cada palmo de folha reverso
Versos firmes, abrigo breu
Morada tosca que poeta ergueu

Operário e poeta absortos
Proletário em sustento pros outros
Poeta iludindo os estetas
Em projeto cada qual suas metas

Erguem abrigos em séries
Proteção das intempéries

Palavras tijolo
Tijolos de palavra
Em concreto afeto
Perder o teto ilusão só e abjeto

Operário recusa teu salário
Façamos em conjunto um corolário

Poeta recusa esse esteta
Leguemos à vida outras metas

Se foram os abrigos
Poesia e obra concreta antes amigos
Agora vão!
À mercê ficamos, em vida e perigos

Meus caros,
Sobrevivência à parte
Esta é a caótica vida em arte.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Interesse


Porcarias de tudo
Sujo seco e mudo
Contudo
Feliz força do absurdo

Linha sem sentido
Quero aquele ruído
Se a corda havia roído
A forca rompeu e me fez caído

Suicídio insucesso
A via passou e se foi o acesso
Agora meço
Sete palmos pelo que me interesso.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Nasço

Incognoscível talento de desacreditar
Realmente descreio que consigo de novo amar
É dádiva
É novo olhar

Sobre o móvel que há anos
Minha sala insiste habitar
Abro a gaveta a encontrar
Velho manuscrito de novo falar

Cheiro de mofo
Não cesso a procura
Não sofro

Quero findar
Termino obscura
Desminto o olhar

Acredito pouco, muito desnudo
Corpo novo, antigo gozo mudo

Narciso do meu perverso prazer
Objeto faz em ti meu maior fazer

Te objeto
Tu meu objeto

Viro, desviro e te reviro
Tudo de ti tiro

De ti escarnecer
A meu bel prazer.

É bom renascer sem parto
Em parte
Em arte.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

É Nesse Embalo


Cortar garganta em grito
Disparar balas de riso
Algemar almas em agito
É a corda bamba do desconhecido que piso.

Frio no estômago antevê o que desconheço
Alegria incalculável
Tornei-me novamente ao teu lado amável.

Abraço em despedida
Mesmo que breve
Como é doída
Essa tua ausência pesada em peito e em lembrança leve.

Hoje não posso morrer
Não sem te ver
Não ria
Morro mesmo, e que seja de alegria!

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Canto de Aniversário

É tempo de escrita meus amigos
A chuva se aproxima e seguimos sem abrigo
Os trovões anunciam em alvorada difíceis pingos
O arrepio da pele e a boca seca denunciam a quem obrigo

Jamais é tarde para quem ainda resta vontade
Dificuldade espessa ou lama grossa que enfrentemos
Anoitece sempre, escurece a quem nega amizade
Há sempre sorriso água para que nele a alma limpemos

Enxergar noite escura sem vela
É treinar os olhos pros tempos que virão
Breu cotidiano viveremos com prazer
De janela em janela
Luzes acendem a cada capítulo
Nessa biografia arrastão

É a chuva da história meus caros
É o breu do desconhecido dia de amanhã
Cobertor no frio do arrepio é exíguo e raro
Nos aqueçamos uns na febre dos outros terçã

A morte que sentada espere
Se a besta nos queria pro momento,
Lamentamos, só amanhã nos fere
Se quisermos!
E na chuva da história perdermos o intento!

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Tarde Demais

Agora vens me dizer que está só
Depois que já apodreci
Depois que em todos causei dó
Agora até de ti já escarneci

Sequei em pranto
Enquanto descobrias
Que mesmo depois deste “portanto”
Era a mim que querias

“Portanto” como dissestes
Quando a porta atravessou
Já recolhi minhas vestes
Tua solidão demasiado demorou

Mesmo aqui só
Seco, apodrecido
Esquecido
Ainda prefiro meu dó.

Seca e apodreça
Você.
E, sem dó, desapareça.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Meu Santo


Perdi um tanto
Molhei o santo
Cabeça abaixo no canto
Católico canto

Crendice burra
Pobre estátua de gesso
Obedece à minha turra
Convicção e não amoleço

Casamenteiro trata de teu ofício
Não sou responsável
Se te ponho em sacrifício
É porque fui pouco amável
Cumpre teu ofício.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Ao Tribunal


As linhas simplórias
Escondem agruras inglórias

Lutas de sorrisos
Brigas de abraço
Disputam incisos
Em contrato que sempre amasso

Chame um bom advogado
Acione a mim
Me intime em bom grado
Não respeito a lei de dizer sempre sim

Agora ao tribunal
Argumentos ladeados
Que esse coração feito juiz moral
Condene este insolente escritor amordaçado.

sábado, 5 de julho de 2008

Aprumando


Empacoto sorrisos
Embalo abraços
Encaixoto meus últimos dias
Nas malas levo tudo que possuo

Viva o paralelo
Linhas eternas, contínuas
Infinitamente não se chocam
Duas vidas
Um só poeta

No bolso de fora da mala...
Quase ia esquecendo
O pacotinho de lágrimas não pode faltar
Agora sim, malas prontas
Novo Amor, lá vou eu.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Palmas!


Puxei papel e caneta
Organizei em laboratório experiência
Olhei em ti perfeita pipeta
Boa medida de amor saliência

Parto para outras ilhas
Junto tralhas sem importância
Jogo-as todas às pilhas
Montes de beijos em ganância

Meus pertences
Imagens de duas almas
Vejo que vences
Estou só e tu às palmas.

Palco de nós
Agradeço e curvo a voz

Antes dois braços receptáculo
Muito obrigado
Fim do espetáculo!

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Lei de Guerra


O colete à prova de riso
Perdi em fuga
Peito descoberto estava puro e liso

Tiro certo, coração aberto

Não esperava presente
Agora, lei de guerra
Cuidado ao soldado da batalha sobrevivente

Padiola
Um beijo em esmola

Não esquece
O ferido merece.

quarta-feira, 2 de julho de 2008


Asnices,
Cretinices,
Idiotices,
Sandices,
Muitas palavras
O que dizer...
Se te chamas
Eunice.


Crendice?